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História da imigração (2)

Fevereiro 22, 2009


Miguel é o primeiro Manzato registrado na Hospedaria do Imigrante

Pesquisa feita junto ao Memorial do Imigrante, onde outrora era Hospedaria, mostra que dos Manzatos lá registrados, o primeiro que aparece é Michele (que virou Miguel no Brasil).

Os computadores do Memorial do Imigrante, localizado nas proximidades da Estação Bresser do Metro, em São Paulo, não têm todos os registros de membros da família que chegaram ao Brasil no final do século XIX. Muitos dos vapores que chegavam ao Brasil, deixavam imigrantes no primeiro porto. Os dados registrados no Memorial mostram isso, principalmente quando apontam que o vapor, antes de chegar a Santos, passou pelo Rio de Janeiro. Além do Rio, existem portos em grande parte da região litorana deste imenso país, o que significa que, de repente, algum parente pode ter ficado pelo Rio de Janeiro ou se instalado na Bahia, Santa Catarina, isso para ficar apenas em alguns exemplos de estados onde há grandes registros de imigrantes vindos ao Brasil. O fato é que, dentre os registros apontados no Memorial, nossos familiares foram os primeiros a aportar no Estado de São Paulo. A chegada ocorreu no dia 28 de abril de 1887, exatamente durante o período em que a Hospedaria estava sendo construída (a obra começou em 1886 e foi concluída em 1888). Observem, também, que de todos os registros feitos – e aqui apontados – apenas a esposa de Miguel (esqueçamos Michele a partir desta linha) tem seu sobrenome registrado nos livros ali arquivados.

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Maddalena Ferretto – esta grafada com dois “ts”, enquanto nosso Manzato tem apenas um – tinha 37 anos quando chegou ao lado de Miguel – que tinha 44 anos – acompanhada pelos filhos Santa (assim grafado nos registros) que é nosso Santo e que tinha 14 anos, Marco, tinha 12, Luigi, 8; Romano, 5 e Giovanni, um ano. Na lista não consta o nome de Fausto, que deve ter nascido no Brasil. Nossos parentes desembarcaram em Santos, no Vapor Bourgogne, ficaram hospedados em São Paulo, até conseguirem um local para ir. Não consta nos documentos que tenham sido contratados por fazendeiros, mas segundo Avelino, com quem conversamos recentemente, vieram para Jundiaí, se instalando no Caxambu, onde Miguel – que era lavrador – adquiriu ou foi prestar serviços numa fazenda ali existente. Com o passar dos anos e com a morte de Miguel, quem morou por lá foi Biazzio, filho de Fausto.

Acompanhem os dados de outros Manzatos a chegarem ao nosso país. Quem tem contato com alguma família citada a seguir, nos informe via comentários, para que possamos buscar parentescos mais próximos. Os dados mostram que as crianças começavam a trabalhar aos 12 anos, pois muitos já aparecem com profissões, nesta idade. Antes disso, o registro conta apenas como “criança”. Vejam como os nomes eram muito iguais ou parecidos. Tem Giuseppa e Giuseppe, Maria, Maria, Maria e Maria, Antonio, Antonio, Antonio e Antonio…

Angelo Manzato – era contador e chegou no Vapor Bretagne, no dia 24 de outubro de 1887. Tinha 49 anos e trouxe consigo Basílica (esposas), 31 anos; Giuseppa, filha 19 anos; Maria, filha, 15 anos; Primo, filho, 12 anos e Maria Luigia, 9. Vieram ainda: Giuseppe, 45 anos, irmão de Angelo. Silvestro, 11 anos, Eugenio, 5 e Pietro, 2 anos, todos filhos de Giuseppe. Foram para Valinhos, trabalhar na fazenda de Francisco Lacerda. Todos, acima de 12 anos, eram lavradores.G.B. (o registro aponta apenas as iniciais, sem mais informações). Ele, com os familiares, eram agricultores e chegou ao Brasil no dia 23 de dezembro de 1887, no vapor Bretagne.Vieram com ele, Tereza (esposa), 47 anos e os filhos: Lorenzo (17), Agostino (15), Arcangelo (11) e Luigia (13). Destino ignorado.Arcangelo chegou ao Brasil no dia 2 de janeiro de 1892 (passou o Natal e o Ano Novo em alto mar) com 38 anos. Veio sozinho no vapor Arno.Giuseppe chegou com a família no dia 4 de maio de 1888 no vapor San Martino. Todos eram agricultores e seguiram para Jaguary, para trabalhar na fazenda de Antonio C. Barbosa. Giuseppe tinha 43 anos e trouxe a esposa Antonia, 40; Gioconda, 14; Angela, 10; Luigia, 17 e Adolfo, 6.Antonio chegou ao Brasil no dia 11 de novembro de 1888 e veio no vapor Carlo Raggio, com 38 anos de idade. Veio com o filho Giuseppe, de 12 anos e com Pasqua, viúva. Não há parentesco registrado entre eles, mas ela era viúva. Destino: Vila do Rio Claro, na fazenda de Paulino Botelho.Antonio (mais um) chegou ao Brasil, com 21 anos, em 29 de junho de 1891, no Vapor Caffiaro.Veio sozinho e não consta seu destino.Luigi chegou ao Brasil no dia 8 de fevereiro de 1892, com 51 anos, junto com a esposa Maria, que tinha 40 anos. Vieram no vapor Europa, com destino a Botucatu.O vapor Rio Paraná trouxe ao Brasil Paulo, 40 anos, que desembarcou em Santos no dia 2 de abril de 1891, acompanhado do sobrinho Pompeo, de 16 anos. Destino ignorado.Pietro chegou em Santos no dia 15 de junho de 1891, vindo no vapor Victória. Ele tinha 38 anos, trouxe a esposa Luigia, de 34 e os filhos Santa, de 3 anos, Luigi, 10 e Giuseppe, 7. Não consta o destino.
Sante chegou ao Brasil no dia 11 de novembro de 1888, no mesmo vapor Carlo Raggio, que trouxe Antonio. Ele tinha 35 anos e trouxe a esposa Modesta, que tinha 33 anos, os filhos Maddalena, 24 anos, casada com Giovanni, que tinha 26. Eusébio, 3 anos, Pietro, 9, filhos de Sante e Amabile, de 3 anos, sobrinha. Imagina-se que as idades estejam incorretas, já que Sante teria apenas 11 anos e Modesta 9, quando Maddalena nasceu… O destino foi Vila do Rio Claro, na fazenda de Paulino Botelho.Mais um Luigi, este com 52 anos, desembarcou no dia 1° de maio de 1892, no vapor Colombo. Com ele veio a esposa, Maddalena, de 34 anos, outra Maddalena, esta com 66 anos e que seria madrinha de Luigi e o filho Carlo, de 15 anos. Vieram ainda, sem constar parentesco, mas sob a guarda de Luigi, Giusepe, 4 anos; Leopoldina, 10; Luigia, 11; Adele, 13; Luigi, 7 e Giovani, 1 ano. Todos foram para Xarqueada, na fazenda de Ferraz do Amaral.Maria, de 32 anos, veio sozinha no dia 20 de março de 1892, no Valor A. Doria.Silvestro também veio sozinho, com 23 anos, no vapor Washington e chegou no dia 20 de janeiro de 1900. Sua profissão, segundo os livros, era de serviços domésticos.Maria chegou ao Brasil no dia 10 de outubro de 1903, com 47 anos. Era viúva e trouxe os filhos Gino Battista, de 21 anos e Eugenio, de 18. Vieram no vapor Las Palmas, de Gênova, eram agricultores e o destino foi Rio Preto, na fazenda Francisco Schmidt. No livro consta que ela já tinha estado no Brasil. Mas não descobrimos a outra época que esteve aqui ou com quem veio.Outro Luigi, este vindo no dia 21 de março de 1906, no vapor Rio Amazonas, de Gênova. Tinha 35 anos, era agricultor e trouxe a esposa Maria, de 27 anos e os filhos Antonio, de 4 e Adolpho, de 2 anos. O destino foi São Manoel, na fazenda de Vicente Soares.Sante Manzato desembarcou do vapor Rosário, com destino a Campinas, no dia 30 de março de 1892. Tinha 43 anos, trouxe a esposa, Maria, de 34 anos e os filhos: Antonio, 16; Ferdinando, 12; Fiorenza, 4; Innocente, 8 e Maria, 1 ano.G. Batta chegou no vapor Arno, no dia 14 de setembro de 1897, aos 37 anos de idade, trazendo a família: Elisabetta, esposa, 35 anos e os filhos Angelo, 14; Luigi, 12; Maria, 10 e Ione 6 anos. O destino foi Jaú, na fazenda de Onofre Almeida Sampaio.Giuseppe trouxe a esposa Anna e o filho de um ano, Antonio, desembarcando em Santos no dia 17 de agosto de 1896, no vapor Edílio Raggio. O casal tinha 34 anos de idade e eram agricultores.

A seguir, informações sem detalhes dos Manzatos (ainda com um “T”) registrados no Memorial:

Angelo, veio sozinho no dia 5 de fevereiro de 1908; Gio Batta chegou no dia 28 de dezembro de 1913 e veio com a esposa Pasqua e com os filhos Anna, Giuglielmo e Rosa; Maria chegou em 10 de outubro de 1903 e trouxe os filhos Eugenio e Gio Battista.

O Memorial registra, ainda, Manzattos ( com dois ”t”): Cesare chegou em 8 de outubro de 1896. Trouxe a esposa Santa e os filhos: Andrea, Angela, Augusto, Elisa, Enrico, Maria, Theresa e Victorio. Segundo os registros, sua nacionalidade é espanhola. Vieram ainda, no dia 13 de março de 1923, Giuseppina e sua filha Leres, ambas Manzatto. Mansato tem três registros: Carlo veio sozinho no dia 9 de setembro de 1891; Felice veio dia 27 de agosto do mesmo ano, também sozinho e Luciano trouxe a família, a esposa Teresa e os filhos Bárbara, Francisco, Maria, Romano e Vittorio. Esta família chegou no dia 29 de outubro de 1891.

Segundo os registros no Memorial, as viagens duravam, em média, dois meses, mas em algumas ocasiões, quatro meses. Imaginem olhar para o horizonte e não ver terras, ver pessoas morrendo no vapor, primeiro por conta do tempo de duração da viagem e depois, por conta de doenças, epidemias. Um sacrifício que só terminava com a chegada ao porto, as acomodações na hospedaria e o destino definido por fazendeiros ou se arriscando numa cidade desconhecida, como deve ter sido o caso de Miguel e Maddalena.

(na próxima semana, um pouco mais sobre a hospedaria – os alojamentos, as doenças, os horários da alimentação e a ferrovia: a rota para um destino feliz).

Texto: Nelson Manzatto
Foto/Imagem: Fábio Manzatto
Pesquisas: Nelson e Fábio